O rock nacional, emergente dos anos 80,
é um campo rico para a investigação histórica, seja em sua formação melódica,
bem como na apropriação de temáticas, objetos, assuntos que se tornaram a ordem
do dia, em um determinado momento.
O movimento roqueiro foi
resultado de uma grande simbiose, em que a atitude punk, propiciou o surgimento
de inúmeras bandas de garagem, no qual durante os anos 70, cresceram em várias
cidades brasileiras, tais como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Rio Grande
do Sul, dentre outras. Notar-se-á como a juventude possuiu essa capacidade
criatória, frente aos dilemas propostos e das experiências que foram
possibilitadas em seu cotidiano.
O difícil processo econômico
pelo qual passou o país levou os jovens a aceitar o novo cenário de
sobrevivência, permitindo a explosão de roqueiros que passaram a compor o rol
artístico de grandes gravadoras, repercutindo seus gestos, vestimentas,
opiniões e estilos por várias partes do país; fazendo com que o rock retome na
ordem do dia.
Doravante, com o processo de reabertura
política, a juventude passou a deter maior poder de manifestação, abrindo-se em
um horizonte espacial, no qual os dilemas, medos, anseios, dúvidas e questionamentos,
são colocados e discutidos por milhões de jovens, urbanos e brasileiros, que em
seu tempo, produziram canções que refletiram os dilemas de um mundo, no qual as
transformações no social, advindas dos questionamentos na esfera da
modernidade, ganham contornos amplos, difusos e incertos.
O movimento
roqueiro deste período permitiu a artistas e bandas, criarem de forma constante
tais canções. O marco do poético é levado em consideração, pois é uma categoria
que permite a criação de simbologias, signos, significâncias e significados. É
nesse bojo que está à música, sua produção, sua arte e seu contexto histórico.
O SEGUNDO SOL
Quando o segundo
sol chegar
Para realinhar As órbitas dos planetas
Derrubando com O assombro exemplar
O que os
astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa...(2x)
Não digo que não
me surpreendi
Antes que eu
visse, você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter
certeza
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora
a trilha
Incluída nessa minha conversão
Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação...
Quando o segundo
sol chegar
Para realinhar
As órbitas dos planetas
Derrubando com
O assombro
exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa...(2x)
Não digo que não
me surpreendi
Antes que eu visse, você disse
E eu não pude
acreditar
Mas você pode ter certeza
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora
a trilha
Incluída nessa minha conversão
Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora
a trilha
Incluída nessa minha conversão
Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis
num dia
E a vida que ardia
Sem explicação...
Explicação, não
tem
Não tem
Explicação..(2x)
Explicação, não tem
Sem Explicação!...
Explicação, não tem.... Explicação! Não
tem, não tem. (Nando Reis).
As
transformações convulsionadas pelas mudanças advindas da modernidade reproduzem
nos sujeitos jovens roqueiros, novas maneiras de interação simbólica e material,
sendo que nessa metamorfose, houve criação de novas simbologias, na tentativa
de expressar suas angústias pessoais e subjetivas, frente aos desafios.
Vento no Litoral
De tarde quero descansar, chegar até a praia
Ver se o vento
ainda está forte
E vai ser bom
subir nas pedras.
Sei que faço isso
para esquecer
Eu deixo a onda me
acertar
E o vento vai
levando tudo embora
Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos
é que eu tenho mais saudade,
Quando olhávamos
juntos na mesma direção.
Aonde está você
agora Além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que
errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está
comigo o tempo todo.
E quando vejo o mar
Existe algo que diz:
"-A vida
continua e se entregar é uma bobagem."
Já que você não está aqui,
O que posso fazer
é cuidar de mim.
Quero ser feliz ao
menos.
Lembra que o plano
era ficarmos bem?
"-Ei, olha só
o que achei: cavalos-marinhos."
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me
acertar
E o vento vai levando tudo embora.
A música mantém em todo seu percurso,
um conjunto melódico pautado na lentidão, visando à tematização em todo o
contexto narrativo, dando legitimidade ao sofrimento advindo do sujeito. Esse é
ratificado pelo espaço da trama, uma praia deserta, no qual o apego aos
elementos da natureza constitutiva, como vento, mar e pedras, é uma tentativa
de fuga ao cotidiano vivido.
Nota-se,
grande inclinação das temáticas envolvendo as relações afetivas, pela juventude
da década de 80, no qual o rock permitiu ressaltar, vislumbrar e dialogar com
as novas situações, que em fim de século tornam-se presentes. Nesse caso, Vento
no Litoral, produz no cenário musical um diálogo com os símbolos, tais como
horizonte, pedra e mar, sendo que o sentir e experenciar tal espaço, permitiu
ao sujeito reconsiderar sua própria existencialidade. O vento espelha e reflete
o símbolo do sentir e do emitir, o seu momento, bem como as transformações que
a respectiva dubiedade é capaz de realizar.
Cabeça dinossauro
Cabeça dinossauro
Cabeça cabeça
Cabeça dinossauro
Pança de mamute
Pança de mamute
Pança pança
Pança de mamute
Espírito de porco
Espírito de porco
Espírito de porco
(Titãs).
“Cabeça dinossauro”, a narrativa possui uma incisiva crítica aos padrões elevados
de consumo: “Pança de Mamute”, gerando indivíduos e sujeitos que não
valorizam outras sentimentalidades humanas: “Espírito de Porco.” Nesse
ensejo, para a banda, o homem em final de século, enclausurou-se na pseudo
melhoria possibilitada pelo consumo, sendo que os elementos da modernidade são
vistos e passados, não como avanço e progresso, mas como sinônimo de digressão
e retrocesso. Tal mensagem aglutinada à melodia, com as quebras advindas de
sons de tambores; associa a condição do homem moderno ao primitivismo.
Se a gente não tivesse feito tanta coisa,
Se não tivesse dito tanta coisa,
Se não tivesse inventado tanto
Podia ter vivido um amor Grand' Hotel.
Se a gente não fizesse tudo tão depressa,
Se não dissesse tudo tão depressa,
Se não tivesse exagerado a dose,
Podia ter vivido um grande amor.
Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "Bom Dia"...
Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Qual o sentido da realidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Se a gente não dissesse tudo tão depressa,
Se não fizesse tudo tão depressa,
Se não tivesse exagerado a dose,
Podia ter vivido
um grande amor.
Um dia um
caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "Bom
Dia"...
Qual o segredo da
felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Qual o sentido da realidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Só pra se viver.
Ficar só Só pra
se viver...
Ficar só Só pra se viver
(Kid Abelha).
As noções de desamparo ressaltam nos sujeitos jovens, do
período abordado, uma multiplicidade de temas que permeiam sua vida. Nesse
passo, as relações da juventude com as modificações impostas pela modernidade,
introduziram nos sujeitos, uma capacidade de erudição, criação e manifestação,
no qual há uma recriação simbólica advinda das sujeições dos letristas e
cantores em sua existência; convergindo ao rock temáticas que ao serem
trabalhadas, demonstram a capacidade de criação do movimento em questão:
Vocês esperam uma
intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra
vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se
vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que
tudo tem começo
Se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês
E as ameaças de
ataque nuclear
Bombas de
neutrons não foi Deus quem fez Alguém, alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes,
pensam que são reis
Não quero ser como vocês
Eu não preciso mais
Eu já sei o que
eu tenho que saber
E agora tanto faz
Três crianças sem dinheiro e sem moral
Não
ouviram a voz suave que era uma lágrima
E se
esqueceram de avisar pra todo mundo
Ela talvez tivesse um nome e era: Fátima
E de
repente o vinho virou água
E a
ferida não cicatrizou
E o
limpo se sujou
E no
terceiro dia ninguém ressuscitou
(Capital Inicial).
Na aceitação do mundo desapegado de valores
morais, religiosos e éticos, o adstrito passa a aceitar a situação de desamparo
frente ao cotidiano experienciado, no qual o homem moderno, em sua ânsia por
dinheiro e poder, reproduz em sua vida e sociedade uma dimensão tecnológica e
tecnocrata, isenta de sentimentalidades humanísticas, promovendo um discurso
narrativo radicalizado. Nesse rol de possibilidades sociais em que a ciência, o
capital e a técnica conduzem os sujeitos frente à experiência moderna; os
detalhes, a valorização e a emoção entre seres humanos tornam-se sombrias,
fantasmagóricas e esquecidas.
Por fim, o rock dos anos 80 conseguiu
produzir uma gama de artistas, que são atrativos para o fazer histórico, o
compositor e músico, em seu momento, reproduziram suas intenções, atenções e
sentimentalidades, capitadas em um dado tempo e espaço, resultando em uma
manifestação cultural rica, criativa e com grande capacidade de representação.
Referências Bibliográficas
Músicas
Nando Reis. O segundo Sol.
Álbum: 20 anos de rock brasil, CD, 2004.
Legião Urbana. Vento no litoral. Álbum:
V, EMI-ODEON, 1991.
Kid Abelha. Grand Hotel. Álbum:
Tudo é permitido. WARNER, 1991
Titãs. Cabeça de Dinossauro.
Álbum: Cabeça de Dinossauro. WEA, 1986.
Capital Inicial. Fátima. Álbum:
Capital Inicial. Polygram, 1986.
Disponível em http://seer.franca.unesp.br/index.php/historiaecultura.
Acesso 21/11/2012 às 20:22 hs.
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